quinta-feira, 13 de abril de 2017

é hora de jogar o lixo fora de uma vez por todas

vamos aproveitar o momento pra falar sobre relacionamento abusivo aqui nesse canal bloguinho, migas? ;)

pra começo de conversa, é sempre bom lembrar e deixar bem claro que violência contra a mulher não é só física. não é só soco na cara e estupro num beco escuro. você, boyzinho que compartilha nude com os brother sem o consentimento da menina, tem tanta culpa no cartório quanto qualquer outro. você que segura a menina pelo braço na balada quando ela fala que não tá afim de te beijar e só solta depois que ela ~prova que tem namorado~ também tá sendo violento. e você que fica falando por aí que a sua ex era louca, descontrolada e espalha um monte de bobagem sobre a menina? pois é, meu bem: violento também. e o marido que controla o cartão de crédito da esposa e joga na cara dela que quem coloca comida na mesa é ele, então ela não tem nem que opinar? desse aí eu não preciso nem falar, né? 


isso estando esclarecido, podemos seguir em frente.

* * *

o meu antigo relacionamento durou mais de dois anos e meio. nós eramos adolescentes, ainda estávamos na escola, então era muito diferente do que é agora. nenhum de nós tinha muita noção do que era a vida real, a gente ainda dependia dos nossos pais pra praticamente tudo... era um namorinho de escola, mas pra mim era a coisa mais essencial do mundo. na minha cabeça, ele era o que eu tinha de mais importante. e o verbo é esse mesmo, ter. a gente se achava dono um do outro, era sentimento de posse de verdade, uma coisa bem problemática.

como já dá pra perceber, o relacionamento era abusivo. mas não tinha nada de físico não. ele não era violento, não me xingava, não gritava comigo, não me forçava a nada... enfim, não tinha nada visível aos olhos dos outros - e nem aos meus, pra ser bem sincera. na época eu acreditava que aquilo era normal, que era a única forma possível pra um namoro acontecer. porque essa era a minha única realidade e eu não tinha uma referência pra me pautar, então pra mim era daquele jeito que as coisas eram e pronto. eu achava normal que a gente controlasse o que o outro fazia. eu achava normal que ele quisesse me impedir de ter certos amigos, porque tinha ciúmes. assim como eu achava normal falar pra ele que não era pra ele conversar com tal pessoa simplesmente porque eu não queria que ele fizesse aquilo. eu também achava normal que ele me pedisse permissão pra fazer algumas coisas, ou pelo menos me avisasse com uma semana de antecedência antes de ir em algum lugar, ou de cortar o cabelo, ou de comprar uma roupa. e, obviamente, pra mim também era normal fazer esse tipo de coisa. 

a gente brigava tanto, mas tanto, que teve uma época que a gente praticamente só se falava pra arrumar confusão mesmo. eu lembro de um dia em específico que a gente tava brigando pelo telefone por causa de ciúmes e eu tava sentada na minha escrivaninha, chorando e falando um monte de coisa, até que eu me olhei no espelho e pensei "o que é que eu tô fazendo da minha vida?". aí eu comecei a perceber que devia ter algo errado no nosso relacionamento, não era possível que namorar era um troço tão sufocante daquele jeito. também não era possível que meu namorado ficasse ofendido e irritadíssimo se eu tirasse notas mais altas que ele. "o professor só te deu nota mais alta que a minha porque você é menina e ele quer te agradar", ele disse uma vez. e eu cheguei quase a concordar, mas fiquei com aquela pulga atrás da orelha. "ué, o que tem a ver uma coisa com a outra? tá ficando doido, rapaz? tirei nota alta porque acertei tudo, pronto e cabô". mas não comprei essa briga não, a gente já brigava demais por causa dos amigos que eu insistia em ter mesmo que ele falasse que não era pra eu falar com essas pessoas...

daí eu cheguei no meu limite e nosso namoro terminou. não brigamos na hora do término, nós dois sabíamos que aquela era a melhor das escolhas, mas mesmo assim não foi fácil. foi difícil pra caralho. a gente tava tão dependente um do outro que parecia um absurdo não estarmos mais juntos, não estarmos mais controlando os passos um do outro. tanto é que mesmo separados, mesmo que ele já estivesse com outra menina, ele ainda vinha dar pitaco na minha vida e reclamar de quem eu beijava ou deixava de beijar. olha, não tá escrito o tanto que eu me ofendi quando o rapaz veio falar "você disse que nunca ficaria com ele quando eu disse que tava com ciúmes e agora você ficou, eu não acredito que você fez isso, você tá muito mudada". a gente já tinha terminado há meses, ele tava em outro relacionamento e ainda se sentia no direito de opinar sobre coisas que não tinham nada a ver com ninguém além de mim. isso porque a gente passou muito tempo acreditando que tínhamos o controle sobre a vida um do outro. mas ali eu já sabia que a coisa não era bem assim. e que, por sinal, um relacionamento saudável devia ser bem diferente daquilo.

aí nós paramos de conversar de vez porque já não tinha mais como sustentar aquela relação esquisita. depois de um tempão, no ano seguinte, eu comecei a me relacionar com o meu namorado atual. e vocês não fazem ideia do quanto eu penei pra deixar pra trás todos os maus hábitos do relacionamento passado...

eu sofri muito até entender que a gente não era dono um do outro, que a gente só namorava. pra mim era um absurdo que ele saísse e só me avisasse depois, sem me contar com antecedência o que ia fazer e por que ia fazer. eu queria narrar todos os meus passos pra ele, mas ele não sentia necessidade de ficar me falando tudo que tava fazendo. aliás, outra coisa que eu fazia no começo era querer saber tudo que ele tava pensando, porque com o meu ex era assim. até que ele me disse "acho que não tem necessidade disso, né? o que tá dentro da nossa cabeça é problema nosso, não é de mais ninguém". aquilo foi um balde de água fria tão grande bem no meio da minha cara que me deu até vergonha. eu acreditava que meu namoro era saudável, e era mesmo, mas eu ainda tava toda contaminada com os erros de antes. e demorei muito pra conseguir me livrar de todo aquele lixo psicológico que tava impregnado em mim. sendo bem sincera, ainda hoje eu me pego tentada a fazer/falar certas coisas que tão longe de fazer parte de um namoro saudável. mas a gente segue firme e forte na caminhada rumo à desconstrução, ainda que ela seja bem dolorosa.

e eu disse tudo isso pra falar que abuso psicológico é um troço muito doido e muito perigoso também. a gente não percebe, porque não deixa mancha roxa pelo corpo, mas é um negócio que te suga aos poucos pra dentro de um buraco sem fim. e quando cê chega lá embaixo, no fundo mesmo, cê acha que nunca vai conseguir sair. eu sentia um ciúmes desgraçado do meu namorado atual, sem motivo algum, só porque eu tava acostumada com isso. e ficava indignada por ele não brigar comigo quando eu conversava com algum menino que ele não conhecia. achava que ele não gostava de mim o suficiente pra se importar. é muito louco isso, né? enxergar o ciúmes como algo nocivo e não como algo bom foi um processo bem lento por aqui. precisei conversar muito com o meu namorado pra conseguir assimilar que amor e sentimento de posse são coisas absolutamente distintas. e, pra minha sorte, ele me ajudou absurdos nessa questão (e em tantas, tantas, taaantas outras).

hoje eu olho pra trás e vejo o tanto que eu mudei e cresci desde o meu relacionamento anterior. na época eu sabia que era ruim, mas acreditava que era daquele jeito que tinha que ser. ouvi muitas vezes das pessoas ao nosso redor que do jeito que eu era chata, só o meu ex mesmo poderia me aguentar. talvez isso tenha me influenciado a insistir no erro por tanto tempo... e o mais bizarro foi a reação das pessoas quando nós terminamos. elas diziam que nós eramos um casal perfeito, que não fazia sentido o namoro ter terminado. mas o relacionamento já tava horrível, desgastado, asfixiante. doía só de pensar. mas como os abusos (de ambos os lados) eram só psicológicos e não físicos, ninguém conseguia ver o quanto aquilo fazia mal pra gente.

se eu que não tenho nenhum trauma sério terminei de escrever isso aqui chorando e com uma dor de cabeça absurda, não quero nem pensar em como meninas que sofreram muito mais do que eu se sentem em relembrar e remexer nesse tipo de relacionamento... mas é importante que a gente faça isso. seja pra ilustrar a realidade das mulheres, seja pra ajudar alguém a enxergar a situação pela qual ela tá passando, ou seja só pra jogar fora esse lixo que a gente ainda guarda aqui dentro. dói bastante, mas no fim das contas faz bem.

que nós mulheres tenhamos cada vez mais força e mais apoio umas das outras pra sairmos desses relacionamentos problemáticos e conseguirmos seguir em frente com as nossas vidas de forma saudável. ESTAMOS JUNTAS! ♀

#euviviumrelacionamentoabusivo
#mexeucomuma #mexeucomtodas

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