segunda-feira, 26 de setembro de 2016

sem máscara não existe rosto

uma das matérias da minha grade escolar no segundo ano do colegial era psicologia. parece uma ideia muito boa né, ensinar uns conceitos básicos pra adolescentes que precisam desse tipo de direcionamento pra conseguir entender melhor como os seres humanos funcionam etc. mas todo mundo sabe que a escola sempre estraga tudo o que podia ser legal, então é óbvio que era bem mais ou menos. apesar disso, a professora era uma fofinha e eu realmente cheguei a aprender algumas das coisas que ela tentava ensinar. lembro com uma certa clareza das aulas sobre os mecanismos de defesa, porque fiquei meio descaralhada da cabeça com toda essa história de ego, freud, psicanálise e tal.

hoje em dia a minha maior defesa é sair por aí sorrindo o tempo inteiro, por todo e qualquer motivo. não sei direito em qual dos mecanismos isso se enquadra, mas funciona muito bem.

a coisa mais comum é ouvir alguém me chamando de risonha, falando que eu tô sempre com um sorriso bonito estampado no rosto. e é bem verdade mesmo, mas quem diz isso é porque me conhece o mínimo possível. é quem só tem acesso ao lado de fora e não faz ideia do que se passa no lado de dentro. é como se o que está por trás do sorriso não existisse.

não importa que por dentro eu esteja despedaçada, desesperada, gritando, sangrando, implorando por socorro ou xingando até a última geração da pessoa que está na minha frente. só o que importa é o sorrisinho. aliás, quanto maior a quantidade de dentes aparentes na hora de sorrir, melhor.

não sei quando eu desenvolvi essa técnica de fingir que tá sempre tudo ótimo, como se eu fosse a pessoa mais positiva do mundo, mas isso é o que me ajuda a enfrentar todas as situações desgastantes. as pessoas tendem a te tratar melhor se você sorri, então essa foi a melhor maneira que eu arranjei pra me proteger. se você tá mal e demonstra isso, ninguém quer te ajudar. todo mundo só quer se meter na sua vida ou por curiosidade ou pra te criticar, nunca pra realmente tentar deixas as coisas mais fáceis pra você. a partir do momento em que você demonstra que tá tudo bem, mesmo que por dentro você esteja quebrada em doze mil pedaços, todo mundo te sorri de volta.

no fim do dia dá vontade de gritar e botar pra fora tudo o que eu me esforcei pra tentar esconder, mas o máximo que eu faço é deitar a cabeça no travesseiro e derrubar meia dúzia de lagriminha silenciosa pensando no quanto de transtorno eu consegui evitar só por vestir essa máscara sorridente. é desgastante fingir ser uma coisa que você não é, mas o pior de tudo é que compensa.

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