sábado, 14 de novembro de 2015

tá tudo ao contrário e há quem ainda não tenha reparado

queria vir aqui pra falar de alguma bobagem, contar alguma coisa engraçada, continuar falando mal da minha professora de morfossintaxe... sei lá, qualquer coisa irrelevante e supérflua que fosse. mas como é que eu posso fazer isso diante de tanta coisa pesada que aconteceu recentemente? como eu posso vir aqui e fazer texto sobre mim, uma pessoa qualquer no planeta com uma vida muito da boa, enquanto a galera tá morrendo e perdendo tudo o que um dia já teve? não dá, não tenho condições.

não tenho condições de ver o desastre avassalador de minas gerais e sentar pra escrever sobre como foi a minha semana no trabalho. as pessoas morreram, o rio morreu, ninguém tem um pingo de água potável pra continuar sobrevivendo em meio ao caos e o descaso do governo, que demorou uma semana inteira pra fazer um puto de um pronunciamento, me dá vontade de chorar.

não tenho condições de acordar no meio de uma sonequinha com o barulho da televisão, com o jornal cobrindo a tragédia na frança, e sentar pra escrever que viajei pra ir num casamento e foi super divertido. como é que eu vou ficar falando das coisas legais que me acontecem enquanto mais de cem pessoas inocentes morreram numa série de atentados sangrentos? (e, nesse caso, o governo brasileiro foi capaz de se pronunciar rapidinho, né? que vergonha, presidenta...) me dá vontade de chorar.

não tenho condições de pensar em todos os refugiados, que <fogem> da guerra, e são vistos como criminosos pelo mundo a fora. não dá pra entender como a religião, que deveria ser algo positivo, que ajuda as pessoas e promove o amor e a paz, pode virar motivo de tanto ódio. tenho medo de pensar no que o futuro ainda reserva, já que as perspectivas, definitivamente, não são boas. me dá vontade de chorar.

tanto me dá vontade que chorei, mesmo. chorei porque não entendo como a vida das pessoas pode significar tão pouco pra quem tá no poder de fazer alguma coisa pra mudar. chorei por todo mundo, pelos que morreram, pelos que perderam alguém, pelos que perderam seus pertencem, pelos que não têm nada a ver com a situação, mas vivem nesse mundo, que tá ao contrário, assim como eu. 

que a humanidade um dia se recupere de todo esse mal, que as pessoas passem a ter empatia umas pelas outras e que a gente aprenda que um problema não anula o outro - há espaço (e muito!) pra se sentir mal pelo brasil e pela frança, ao mesmo tempo. nosso coração é grande desse tamanho, gente. dá pra se solidarizar com os parisienses e com os mineiros, sem deixar ninguém de fora. nem os refugiados, que vivem em situações sub-humanas. (mas, por favor, não se deixem levar pela mídia brasileira, que tá pouquíssimo preocupada com o brasil, mas não perde um segundo do que tá acontecendo na frança: não fechem os olhos pro pessoal de minas.)

se é pra rezar, que seja pelo mundo inteiro. que o amor tome conta do planeta e se multiplique, porque só assim é que dá pra gente continuar.

2 comentários:

  1. Você escreveu o texto que eu queria ter escrito.
    E chorou o que eu queria ter chorado, porque eu não consegui. Algumas coisas as vezes me parecem que tem que ficar aqui doendo pra gente lembrar sempre o quanto importam. Não aguento ver essas coisas, saber a minha impotência, ver os debates de facebook. Por mim estaria tudo tão bem, por que pelo outros não pode estar também?

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    1. esses dias meu pai ficou divagando sobre como a vida poderia ser muito mais incrível se o mundo inteiro conseguisse conviver em paz e se os povos de culturas/religiões/etc diferentes dividissem suas experiências uns com os outros em vez de ficarmos todos em conflito por não aceitarmos as diferenças e tal. eu fiquei na bad de pensar nisso, porque olha o nosso tamanhozinho, tão minúsculo no meio da humanidade inteirinha, sem força e nem poder pra interferir de forma efetiva na realidade atual... :(

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